sexta-feira, 17 de outubro de 2014

BICHO-PAPÃO


Debaixo da cama, todos os bichos-papão se acumulavam. 
Nenhum deles teve jamais coragem de sair de sob o leito e enfrentar a luz.
Afrodite fingia ter medo para que eles gozassem de uma elevada auto-estima.
Mas era só ela se postar diante dos olhos de algum, querendo bater um papo, o cujo gritava e se afundava mais ainda no escuro.
Teve uma ideia: se comunicaria através de cubos de letras.
Espalhou-os pelo quarto e esperou. Teve de fingir um grito de medo para que a primeira mão se atrevesse.
E como tremia essa mão. Nunca vira bicho-papão tão medroso.
Só o que queria era conversar. Talvez até passear. Fazer um piquenique. Ir à praia. 

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