sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

É FOOD, PAI, É FOOD!


Food! Food! Os dois eram gordos.

Pai e Filho a sufocarem em seus flatos o Espírito Santo.
Qual o propósito daquela discussão diária?
Tentaram sair da mesa. Entalados.
Únicos sobreviventes a não questionarem.
Não questionavam o excesso Dele-Pai de querer criar um outro universo para as suas bizarrias.
Deste universo levaria para o outro os bois mais gordos, claro.
Os bois tentavam orar: - São MMA Boi-Arcanjo,
defendei-nos no combate....Como é que é o resto, mesmo?

(os bois não tinham boa memória).
O filho bastardo da proveta de luz Dele-Pai, refestelado numa nuvem manchada de vinho, caída em cima da mesa de um dos bares dali, naquela cidadezinha, no estado do Espírito Santo, pensava: “o fedor desses dois é de quem não limpa a bunda faz tempo”.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

FANTASIA DE AMOR DE UM HOMEM ANTIGO



O velho Nado caminha, cambaleante, com uma garrafa de cachaça, na direção da praça.  

Um cachorro o segue, o Quimera, vira-lata quase gente. Amigo sem igual tá ali. 

Quando Nado dormia demais, sempre estava com a língua a postos. Sua lambida era quente e terna. Quimera não gostava era de tomar banho, mas, Nado mergulhava com ele no chafariz três vezes por semana, no início da profunda madrugada.

Nado é um homem grande. Perdeu a conta de sua idade. Dá a impressão de ter sido lutador de boxe, peso-pesado. Ou rolado a pedra de Sísifo. Ou a roda de Íxon, o falador, lábio solto, fofoqueiro. Bem podia ter ficado calado, mas foi dizer que comeu a esposa de Zeus. Se fodeu.


No canto, um cão em sacanagens com uma cadela e ao longe um mendigo cego larga as bengalas e os ouve, atento ao som dos movimentos animais.

Nado senta num banco e consulta um calendário. Espera alguém. Acaba dormindo no banco horas depois.

Sonha colorido. Seu sonho se incumbe de trazer-lhe o passado e o mostra pra nós:

Uma jovem atriz descansa num banco de praça, esperando os companheiros, fumando um baseado.

O grupo dela apresentou uma performance teatral de apoio às reivindicações de um sindicato.

Combinaram de fazer a apresentação nas portas de uma fábrica ali perto.

Quando terminaram, o grupo se dispersou um pouco, ou para ir ao banheiro, ou para telefonar ou realizar outras ações e a jovem atriz fora parar ali, local de reencontro da turma, na Praça Joaquim Montenegro. 

Ela chegou antes. O nome dela? Aurora. Uma moça bela de doer, como um raio de sol dos olhos de Helena, a bela de Tróia e de Fausto - de Goethe.

Um garoto de seis anos de idade estava á janela de uma das casas que ficavam de frente à praça.

Quando ela foi chegando, rebolando devagar, cansada, suada, sapatos nas mãos, os olhos do menino, abertos e castanhos, foram atingidos pela origem de universos que surgiam nela, uma luz que o menino jamais vira nas estrelas, ele que estava acostumado a mirar o céu.

Incontinenti, o amante precoce se lançou à praça. Não de maneira fácil. Ele tem um objetivo e por ele pisa no rabo do gato, escorrega no cocô do cachorro, derruba um vaso de plantas, tropeça na mangueira com a qual sua mãe lavara o quintal e encontra o portão fechado. Pede a mãe para abrir o portão. Sua mãe, brava pela mangueira, pelo vaso, e por tudo o mais, não abre. O garoto chora que chora, mas não adianta.

Sua mãe corre pra cozinha quando ouve a panela chiar. É nesse momento que ele se aproveita e sobe no portão, impulsionado pelo motor da fascinação amorosa.

Aurora observa sua acrobacia no portão, não acreditando na proeza. E fica mais embasbacada ainda quando ele declara seu amor com magro vocabulário.

Ela que não esperava a declaração titubeia, mas, lhe diz:
– Sabe, eu....Não sei nem como....Mas...eu me sinto feliz por...uma pessoa como você gostar tanto assim de mim...Nunca vou poder retr.....Principalmente, por sentir que seu amor é puro...Talvez no futuro a gente.....
-Quando?

Uma colega chega de repente. É Betina, uma atriz do grupo de Aurora, linda, de uma beleza gótica, com um quê de equilíbrio exótico. Sempre primando pela depressão representada. Conseguia porém se distanciar de si mesma nos personagens. Fala, de modo precipitado e agressivo:
– Nesta praça, daqui a setenta anos.  Vê se te enxerga, garoto! Vamos, Aurora!
– Você tava ouvindo o que eu falava com esse garotinho?
– Tenho de ficar de olho nos meus interesses. Afinal, eu te amo.
– Não tem cabimento, Betina. Olha a idade dele.
– A turma tá esperando lá adiante. O sindicato já pagou. E a gente tem muito o que fazer.

Aurora, comovida, alegra os ouvidos do garoto.
 – Eu te amo muito, viu?

Aurora dá-lhe um beijo. Entrega ao garoto um bentinho com versos de Camões.
– Daqui a setenta anos? Nessa mesma hora?

Outra vez, Betina se mete:
– Claro. Ela vem daqui a setenta anos e nesta mesma praça. – Baixinho: - que piada.

Aurora olha-o ternamente durante largos segundos. Apressada por Betina, continua seu caminho.

Os anos passam. Vemos o menino, já quarentão, declamar numa emissora de TV. O diretor se aproxima.
 – Nado, vê se você articula mais as palavras, abre mais a boca..
 – Vou tentar.
–  Tentar não. Você vai fazer. Que porra, Nado. Você quer acabar sua carreira?

Quando o diretor se afasta, Nado pega uma garrafa no canto e entorna.
O Assistente de Áudio lhe entrega um envelope.
-Ah, alguém deixou isso agora pouco pra você.

Nado abre e lê: “Setenta segundos, setenta minutos, setenta horas, setenta dias, setenta meses, setenta anos..”

Tudo volta à sua mente de uma maneira delirante. Será que ela. Tenta imaginar. Age de modo impensado e desespera pela escada abaixo. Empurra a porta, vai até a esquina, caminha para todos os lados e não encontra o que quer ver.

O Diretor, preocupado, desce atrás de Nado.
– Ei, você tá maluco, Nado? Esqueceu que a gente tem compromisso e você nem assinou contrato? Lembra do que te falei sobre acabar a carreira?
– Tá bom. Desculpe. Você tem razão. Deve ser ansiedade, tensão nervosa, sei lá. Vam’ simbora.

Nado acorda, de repente. Como se algo o tivesse cutucado. Olha para todos os lados. Quimera ainda está ali. Acaricia seu velho amigo.

Enxerga o cego, agora com as mãos nos bagos e nota o casal de cães, agora grudados. Um frentista, de um posto de gasolina próximo, maldosamente, se prepara para dar um banho no casal canino.

Vê ao longe uma senhora que passou com uma flor. O cheiro ficou no ar. Um cheiro familiar, cheiro indelével, guardado na caixinha da sua memória...

A roda do tempo é cruel. Nado afundara no alcoolismo aos quarenta e poucos anos. Dormiu em pequenos quartos, depois em pequenos becos, depois, na rua. Mas nunca deixa de levar, para todo lugar aonde vai, aquele bentinho no bolso. Como se não esquecesse uma promessa. Que loucura!

Nado não tem forças pra correr atrás da dona do cheiro, não tem forças nem pra andar. Volta a dormir. Engata num sonho de novo. Um sonho-presente, uma dádiva do Universo, que até aquele momento observava-o, metafísico.

Parece que vemos um anjo jovem. Um anjo com um broche no formato de uma pequena foice. Camiseta regata, com uma caveira desenhada na frente, tênis preto, luminoso, bermuda cinza, "piercing" de crânio na língua e alargadores em ambas as orelhas. Podemos colocar ainda um indefectível aparelho com a forma daquelas macas tumulares. Mas bem limpinho, brilhando mesmo.

Vocês podem imaginar que seja isso uma invenção de um escritor para amenizar a desilusão de um personagem que, como o escritor, desconfia muito de si.

Entremos no sonho de Nado. Está sentado no banco, agora mais novo, e, sob reflexos brilhantes de arco-íris, enxerga na ponte próxima uma senhora elegante. 

A senhora com uma flor? É ela, tem certeza. Está cheirando agora um bentinho. Ele procura em seu bolso e percebe que não tem mais o bentinho. Pode ter caído, enquanto ele dormia.

Corre na direção da senhora. Com agilidade jamais tida, ou, se a teve, foi na juventude esperançosa de amor. Parece que ela está tão distante. Ele acelera e se dá conta que penetra num terreno fantástico, ação facilitada por este escritor, que sabe dos traços de si no personagem.

Nado se transporta com a amada senhora para o passado. Estão mais novos, com idade ao redor dos vinte e cinco anos. Ela está grávida.

Ele ensaia poemas num estúdio, com a mais perfeita articulação, enquanto sua amada, uma flor nos cabelos, o observa, as mãos na barriga, acalmando um hábil chutador. Ou será uma?

Numa dimensão mais próxima de nós, recolhem os seus restos para a vala dos indigentes. 

Quimera ficará ali, durante anos, alimentado pelos circunstantes. Até evaporar, num dia de chuva, pois, quem nota um cão que evapora?

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

LUKE EM ESTADO DE NERVOS




  Foi até a Ponte do Arco-Íris e se preparou para o ato final.

  Amarrou uma ponta da corda ao pescoço e com a outra enlaçou o paralelepípedo.
Enquanto fazia isso, rememorou tudo que aconteceu há pouco no Bar do Otanias.

  Tudo estava em paz às dez da noite daquela sexta, não fosse uns pissicos pegos pela polícia após tentarem roubar outros pissicos.

  Eduardo e mulher tomavam uma cerveja de litro.

  Do lado, Nereu puxava um samba, coisa não muito comum àquela hora.

  O sonho dele era ter uma foto sua na parede interna do Otanias. Com pandeiro e duas moças, que ele já tinha em mente, a seu lado.

  Mas logo perde as esperanças, ao ver chegar aquele grupo de Hip-Hop que o Otanias contratara por um mês. Como chamavam aquilo de música? Samba de raiz é que era o máximo.

  Eis que chega Luke. Tem olhos azuis, tristes, e está de regata e bermuda. De imediato, vai pra cima do Marcinho, que joga sinuca.

  Márcio usa “dreads” nos cabelos. “Dreads” longos, amarelos. O único com “dreads” amarelos nas imediações.

  Luke o chama prum canto. Começam com poucos gestos. Dali a algum tempo, a gesticulação é mais veloz, os lábios se crispam, as bocas aumentam suas aberturas.

  Um escândalo se inicia. “Fiat escandalux”. Os dois começam a bater boca.
- Quer saber? Foda-se!
Luke fica uma arara.
- Eu conto teus podres. Você duvida?
- Não vai ter efeito. Todo mundo sabe.
Marcinho tenta se livrar.
- Vai embora, Luke. Eu prefiro ela. Tu tá fora.
- E os planos que fizemos?
- Que planos? Você tá precisando de terapia.

- Você que tá. Quer que eu te indique?
- Você é um coitado!
- Não me chama de coitado! Ninguém merece ser chamado de coitado, tá entendendo?
- E os nossos planos de um grupo de dança e de um estúdio pra feitura de“dreads”?
- Não sei do que tá falando?
- Eu tenho o testemunho de tua família!

- Eles são eles. Eu sou eu.
- Eu os amo como minha família. Sou amigo dos teus cinco irmãos árabes.
- Se eu visse no que ia dar, tu não ia em casa de mãe e comia minha Kafta no Espeto.
- Eu dei um carro pra cada um!
- Porque você quis!
- E o sexo?
- Isso não liga nada.
- Por ti enfrentei a Fera do Lago naquele game!

- Deixasse eu enfrentá-la.
- Não tou acreditando!
- Olha, vamos parar...

- Eu compartilhei a o teu álbum de “dreadlocks”.
O pessoal do bar estava em volta apreciando a discussão. Gritavam que queriam briga, sangue. Luke continuou alfinetando Marcinho.
- Você é um dissimulado. Devia saber. Não se confia em homem de bigode. Nelson Merd já dizia...
- A vida é assim. Como ela é. Dói.
- Nem cem terapeutas dariam conta da tua mente malévola! Tu tá me trocando por uma mulher!
- Sim, com ela não me sinto só!
Fala Luke aos demais.
- Gente, este porco me deu esperanças! Não tem sensibilidade!


  Todo mundo querendo ver postas de carne no chão espalhadas e eles só no papo contra papo.

  Chegou a atual. O nome dela era Mercedes Telúrica. Gordinha, elegante, com um problema num dos braços. Mais curto que o outro. Um lado dos óculos remendado com esparadrapo.

  Vestida com uma minissaia que, pelo amor, tiraria um santinho do altar.

  Coxas grossas como a libido dos ex um dia foi.

  Mercedes era pintora. Tinha penetração nos meios artísticos. Suas exposições sempre eram concorridas. Seus mosaicos eram sublimes.

  Além do mais, sua habilidade em fornecer sem furo algum imensa quantidade de pó era muito apreciada. Sempre tinha o bastante pra todos. E pra Marcinho, consumidor assíduo, era a mão na roda.

  Na verdade, Luke não sabia da missa a metade.

  Mercedes era uma das atuais. Marcinho se juntaria a duas mulheres. Seria um casamento a três. Elas queriam um homem feminino pra completar o casamento delas.
  Quando o casal foi embora, Luke ficou arrasado.

  Bebeu até as duas da madruga. Foi pra casa cambaleando. Lean e Moreno deram uma ajuda.

  Deixaram o coitado na casa de sua mãe, onde Luke passara a morar. Ficava ali pertinho.

  Fosse mais longe, creio que pensariam melhor.
 

  Luke só pensava no que Márcio disse no dia anterior ao encontro no bar. Falou que transava com todos, menos com ele.
 
  Luke lembrou de algo. Foi na área de serviço e pegou uma corda. Num carrinho de mão, pôs um paralelepípedo que o pessoal da Prefeitura deixara em frente e ele arrastara ao quintal pra escorar o galho de uma planta.
 
  Rumou para a beira do Rio Cubatão. Pegou a corda, amarrou na pedra e no pescoço.

  Quando balançou a pedra, num lance súbito, ela foi pra trás. Por um golpe de sorte, não caiu no rio. Mas ganhou umas dores daquelas. Ficou estirado na pista. Sua lombar deu sinal. Não conseguiria levantar não fosse uma alma caridosa.

- Me considere o seu anjo! - falou Haroldinho e o colocou de pé. As dores passaram milagrosamente.

  No momento em que ia agradecer, o samaritano desapareceu.
Voltou pra casa. Precisou um litrão de vodka para virar a página, depois de vomitar nela.

  Amanhã, estaria ruim, ainda. Um outro trauma. Depois, bem depois, talvez um ano, como concordavam Moreno e Lean, viria a calma.

  Lembrou Luke a canção Behind Blue Eyes, do The Who...Como é que era a tradução, mesmo?

"Ninguém sabe como é, ser o homem mal
Ser o homem triste, por trás dos olhos azuis
E ninguém sabe como é, ser odiado,
Ser destinado, a contar só mentiras...

Mas meus sonhos não são tão vazios
Quanto minha consciência parece ser
Passo horas, de pura solidão
Meu amor é a vingança que nunca é livre..."

  Teve fome. Pensou: comer é a melhor vingança...

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

ALFREDO E SUA BUSCA INSANA

   

Júlia é linda como um bibelô desnudo de porcelana da vovó. Tem uma alma generosa.
   Se compadece tanto com pessoas sem eira, quanto com animaizinhos abandonados.
   Sexualmente, tem sua sensibilidade voltada para todos os seres humanos, sejam homens ou mulheres. Por isso, a insegurança de todos que se interessam por ela em um relacionamento duradouro. Se fossem só os homens. Mas ainda tem as mulheres. A concorrência vem em dobro. É foda. Tem que ser muito descolado.
   Quanto aos homens, ela gosta de repartir seus vícios de ácido nos passeios.
   Adora passear levando os namorados nas viagens acidificantes, mesmo que eles não provem dos grãozinhos coloridos. Se a polícia aparece, não está só. Passa por uma namorada andando com o parceiro à procura de escurinhos atraentes.
   Com os perdidos, espera pegarem-na à força, e então se entrega.  Se não a pegam, termina. Não é má por isso. Apenas tem um desvio de caráter. Crescera num lar oprimido por seu tio, que a criara depois que seus pais morreram em acidente de carro. E esse tio a manipulava desde os tempos mais tenros.
   Ela está sentada numa cadeira do lado de fora do bar do Naldo, ao lado de umas colegas do Jardim AI-5. Seu skate está debaixo da mesa.
   Nota Alfredo de longe. Desde que ele chega no bar do Otanias, ela o observa, enquanto ele toma uma cerveja com torresmo e ovo cozido. Aninha tem sentimentos contraditórios por ele. Se sente atraída e, ao mesmo tempo, lhe tem repulsa.
   Alfredo chegara ao Bar do Otanias bem puto. Costumava chegar às oito da noite. Ali ficava até as dez e depois passava ao Bar do Naldo. Mas o fato é que naquela noite chegara mais tarde.
   Alfredo tem uns quarenta e cinco anos. Alto. Barba rala. Oficial da Marinha, anda sempre com uma arma automática. Vez em quando some por dias, no comando de um submarino da classe Tikuna. Sempre excessivamente perfumado. Costuma tomar uns quinze banhos por dia. Haja água. Só não tem tato. Nem muita moral. Acha ética e moral prejudiciais ao macho em certos ambientes.
   Aqui entre nós, Alfredo passa por macho 100 % mas e uns 99 %. Pois, certa feita, precisando de dinheiro, saíra com uma transsex, a Claudine. Operada, mas transsexual. Mas ninguém fale isso pra ele, viu?
   Alfredo sai do Otanias pro bar do Naldo.
-Hoje, eu traço uma lésbica! – gritou pro Zé Maia, que estava encostado na mureta.
- Então, a gente tem que ir no Forró da Nice. Lá eu sei que tem mulher pra carai, não é, Moreno? Diz tu, que já foi lá – agitou o Zé Maia.
- É, tem mulher de todo jeito..- disse Moreno.
   Zé Maia aproveitou:
- Tu gosta, Moreno?
- Até sem banho. Com farinha e cerveja, faço estrago!
- Mas eu quero trepar com uma lésbica daqui. Já encasquetei. Nesse lugar, hoje, tem o maior número de lésbicas por quilômetro quadrado! E eu adoro desafios! E vou mudar uma lambe neste bar. Ou não me chamo Alfredo Neves .
   Pontificou Zé Maia:
-Tu não vai conseguir, Papel. Eu já tentei. O Lean ali é testemunha.    Aliás, todos que tão aqui podem dizer. Eu tentei. Me estrepei. Me fodi. Cuspiram ni mim. Foi foda. Foi foda.
   O Alfredo fica puto quando o chamam de Papel. O apelido pegou por causa daquele comercial de papel higiênico.
   Antes que Zé Maia começasse a chorar, lembrando da cuspida, Alfredo falou, decididamente.
-Eu não vou me estrepar. Escolha uma. Aponte.
-Qual?
-Puta-que-o-pariu! Escolhe uma, porra!
-Tou pensando. Tou pensando.
-Ah, vai te foder, Zé. Lean, me aponta uma lésbica!
   Lean apontou. Alfredo foi. Foi até Aninha.
-E aí?
-E ai?
-Eu te quero.
-Eu não te quero.
-Gata, você me conhece?
-De outros lances.
-Então, olha, é o seguinte. Você só finge. Eu disse pros meus amigos que iria trepar com uma lésbica e...
-Você quer que seja eu.
-O Lean apontou você.
-Aquele de jaqueta?
-Bem, ele mesmo.
-Ele é meu tio. É mesmo um safado. Vou falar pra tia onde ele fica tarde da noite.
-Não sou de família. Fala, quanto você quer?
-Não quero nada. Não vou com você nem por um milhão.
   Mentira, por um milhão ela ia. Ia e repetia toda a noite juras de amor eterno.
   Alfredo, com raiva ou despeito por ser rejeitado, gritou pra todos ouvirem:
-Pessoal, a menininha aqui quer dar pra quem tiver dinheiro e pau pequeno!
   Sem querer, Alfredo acertara. Ela preferia os pequenos porque era muito rasa. Sabem, como uma piscinha pra crianças. Como um copinho de boneca ou coisa assim.
-Seu idiota, você quer me desmoralizar? – sussurrou Aninha.
-Você já não tem moral. Tem moral, tem?
-Tá bem. Tá bem. Vamo lá, seu grosso de merda! Daqui a uma hora.
- Nada. Agora. Ou você quer que eu torça seu braço?
   No fundo, ela queria. Ela odiava machezas na teoria, mas, na prática uma distorção de personalidade fazia com que gostasse de ser tratada como uma escrava na hora das pedras rolando.  Foram para o fim da rua, onde havia um terreno abandonado.
   Ela fez um muxoxo de mulherzinha enjoada.
- Eu não sou mulher de terreno abandonado!
- Mas eu sou um cachorro de terreno baldio. Vamo, vai descascando.
   No momento em que Alfredo chupava as mais gostosas laranjinhas da china do mundo, carocinhos róseos e salientes, aparece um cara com um facão enorme. Um psico. Quando ele tava quase chegando lá, a faca encosta em sua coluna.
   No entanto, o psico ficou espantado. Não esperava reação. Como Alfredo era sem medo e gostava de uma briga, reagiu, lutou com o maluco. Aninha aproveitou pra fugir. Voltou pro Naldo, espalhando o acontecido.
   Alfredo pegou na lâmina da faca com sua mão direita. Não ligou pro sangue. Deu uma surra no atrevido com o cabo da faca. Após, tirou a lâmina, que já tava meio solta, e ofereceu o cabo pro outro.
- Vou deixar este cabo contigo. Quem sabe você não troque por uma pedra das pequena.
   E com o cabo deu na cabeça do sujeito umas vinte vezes.
   Milagrosamente, o psico conseguiu correr, quando Alfredo limpou o suor dos olhos com a manga da camisa. Alfredo, só após o embate, notou o sangue que escarlateava de seus dedos para a rua. Tirou a camisa e enrolou na mão. Fulo da vida, com morte nos olhos, retornou ao Naldo e quis retomar a iniciativa com Aninha.
-Não, você está sangrando e eu detesto sangue.
-Que papo é esse? O sangue não tira minha vontade de você.
-Mas tira a minha.
   Pegou pelo braço a menina. Nisso, aparece Jaboatão, uma lésbica de dois metros e lutadora de... alguma coisa.
   Alfredo estudou os pontos fracos de Jaboatão. Até lutaria, não estivesse com a mão naquele estado. O jeito foi se sentar próximo à mesa do Moreno, que bebia e pontificava sobre teatro pós-moderno. Lean no outro extremo entretinha um casal de amigos sambistas com uma de suas piadas sem graça.
Mas Alfredo não desiste.
-Moreno, agora você. Me aponta uma lésbica.
- Desiste, Alfredo. Aqui não tem jogo.
- Aponta, porra!
   Moreno aponta. Alfredo vai. Duas mulheres, bem femininas, se beijam. Alfredo sente tesão misturado com nojo. Quer estar ali com uma delas. Ou no meio delas. Como não participa, despeita.
-E aí?
   As duas olham.
-Vocês me deixam sentar?
-Fora. A gente já te conhece. Aqui você não tem espaço.
   Alfredo volta enfezado pra mesa do Moreno. Bebe uma garrafinha de cerveja de uma vez só, levanta, olha pras duas e grita:
-Vocês só são do lambe-lambe por que não conheceram a minha rola!
   As meninas suspendem o beijo e decidem ir pro bar do Otanias.
   Lean aproveita e pergunta a Alfredo, de modo bem sacana.
- E se uma delas aceitasse, você trepasse e ela quisesse depois te comer com o consolo de preferência? Como aquele que a Aninha já mostrou pra gente uma vez.
- Não tem problema! Eu ia poder dizer que fui comido por uma mulher! Por uma mulher, entendeu? Só é viado quem é comido por homem! Por homem! Uma mulher enrabando é uma mulher enrabando.
   Como ele falou alto, foi uma gargalhada quase em uníssono no bar.
- Viado! Viado!
   Alfredo pegou sua arma, engatilhou, mas não precisou fazer mais nada. Todos sabiam que era da pá virada. E protegido por altos poderes aos quais nas horas vagas ajudava, organizando equipes de segurança. Geralmente, equipes de militares expulsos que participavam de suas ações desconhecidas.
   Lean chegou no seu ouvido.
-O lance é ir pro Largo do Barqueiro. Lá tem uma casinha cheia de putas japonesas. Vai por mim.
- Não, não. É hora de eu ir pro Otanias.
   Alfredo vai ao Otanias, esperançoso. Anda de mesa em mesa. No entanto, não vê desafio. Todas as moças que estão ali tem companhia. De todo tipo. Hetero com hetero. Homo com Homo. Bi com Bi. Etc. com Etc.
   Alfredo bebe até o cu fazer bico. Naldo fecha. Otanias fecha. E    Alfredo sai pela Rua Pedro I, mijando nas calças, cantando para as cadelas e para a lua uma canção triste que desvirou os sonhos e faz lacrimejar as estrelas, balançando lentamente o lençol da noite estrelada.  A noite lhe pede Almir Guineto...

Deixe de lado esse baixo astral
Erga a cabeça enfrente o mal
Agindo assim será vital para o teu coração
É que em cada experiência se aprende uma lição
Eu já sofri por amar assim
Me dediquei mas foi tudo em vão
Pra que se lamentar
Se em tua vida pode encontrar
Quem te ame com toda força e ardor
Assim sucumbirá a dor
Tem que lutar
Não se abater
Só se entregar
A quem te merecer
Não estou dando nem vendendo
Como o ditado diz
O meu conselho é pra te ver feliz


   Cantava bem o oficial. Sua voz emitia sons como os da lira de Orfeu. Comoviam   do   mundo   sólido   ao   gasoso.  Mas   nenhuma   mulher.    Nenhuma flor naquela noite de espinhos e espíritos perdidos e solitários. 

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

NORMAN E NORMA, FACE A FACE

Seu nome era Norman. Ele conseguira enganar a todos. Como um bom contabilista que era. Ainda tinha o robe de ser prestidigitador.

Notável. 

Sua fama atravessava a região, avançando além do estado graças à internet.

Amealhara uma boa condição patrimonial.

Era presença constante em todas as instituições financeiras da cidade.

Seu nome estava em todas as colunas sociais, sendo o sonho das socialaites e suas filhas, desejosas de aumentar o patrimônio às custas de um bom partido.

Suas festas eram muito badaladas, tendo a participação de jogadores, atores, atrizes, eméritos políticos, justos e corruptos, e mais presenças faustosas.


Numa dessas festas, o jogador Fulano de Tal foi flagrado com Juliana, aos beijos e amassos mais. 

Juliana era uma transsexual das mais bonitas, que sempre era alvo dos fotógrafos das revistas chiques.

Em outra dessas festas, o empresário Sicrano de Tal, da mesma família do Fulano, fora encontrado no banheiro quase totalmente sufocado por um saco plástico como aconteceu com aquele autor de Kung Fu. 

Depois de recuperado, disse à Imprensa que estava testando a resistência dos sacos plásticos para sua empresa.

Ainda em outra, o filho do Seu Sicrano filmava nos quartos toda a sacanagem dos seus pássaros. 

Em cada quarto, havia uma gaiola. E seus pássaros falavam coisas do arco-da-velha. Pena que ele estragou o filme. 

Eu já entretive conversa com uma das moscas de sua casa. Mosca muito culta por sinal. Não espalhe, leitor, isso, por favor.

Norman tinha orgulho de ter uma família tão bonita; sua esposa, Josy, e sua filha Joelma eram a sua fortaleza. Por elas, era capaz de tudo.

- Pai, eu quero falar com Deus!
- Pai, eu quero que o senhor mate um anjo dos grandes!
- Pai, chama Helena de Tróia pra jantar!
- Pai, eu quero ver uma luta de Hércules e Sansão!
- Bem, eu quero um castelo cheio de atores e atrizes pornô cantando músicas religiosas e fazendo milagre penal (era assim que ela se referia a pênis de mais de quarenta centímetros).

Mal elas expressavam um desejo, ele já voava, se precisasse, ao outro lado do mundo e providenciava a sua satisfação. 

Tinha uma capa de super-herói do verdadeiro Clark Kent. Kent hoje mora numa cidade subterrânea com seu amor eterno, uma vampira que ele encontrou numa das noites em que andava à beira-mar. 

A vampira tascou-lhe uma dentada no pescoço e estragou todos os dentes, não sem fazer uma cenazinha particular.

- Você já viu uma boceta tão grande e apertadinha assim, meu bem?
- Nunca.
- Você já viu uma chupadora tão boa quanto eu?
- Nunca.
- Você é mesmo um mentiroso!

Então, que ela aproveitou pra tascar o que eu falei.

Ele se apaixonou tanto, que fez pra ela uma dentadura com os cristais kryptonianos de sua ilha.

A esposa de Norman aprendera com o tempo a não falar sobre quaisquer desejos de maneira súbita. Sabia dos excessos generosos do marido.


Quando mais nova, a filha abusava mais dessa fraqueza, tanto que ele ficava praticamente morto de noitinha.

Acordava bem na hora em que iam meter seu caixão no túmulo. Aconteceu isso umas cem vezes.

Norman iniciara a carreira como um jovem promissor. Sempre ostentara vestes elegantes e modernas. 

Estava sempre fortalecendo peitorais, bíceps, tríceps. Fora campeão de Judô cinco vezes dos vinte aos vinte e cinco anos de idade. Em razão, disso seus joelhos eram frágeis como vidro.

Com a instalação do seu escritório, abandonara o esporte. Passando o tempo, devido ao acúmulo de serviço, e agenda lotada, montou em um cômodo de sua casa uma bem aparelhada academia.

No início, deixava sua esposa se exercitar na mesma. Depois, achou melhor montar em outro cômodo uma academia somente para ela.

Passou a ter necessidade de mais espaço, mais independência.

Queria um lugar isolado, só pra ele.

Conseguiu achar então um apartamento no centro da cidade, no tamanho exato de suas necessidades. 

Era um apartamento onde conseguia aquietar suas neuras. Relaxava, ouvia música dos anos setenta e bebia quanto quisesse de absinto, o que era proibido em seu lar.

Certa vez, quando completara dois meses na aquisição daquele apê, passou por sua cabeça uma idéia obsessiva. Necessitava de um site só seu. Então, começou a frequentar cursos pra isso. Tornou-se um especialista.

Depois de ter o seu site, criou coragem e começou a freqüentar os classificados do jornal de maior circulação da região.

Clientes começaram a freqüentar seu apartamento com maior regularidade. Quase todos chefes de indústria. Ou bam-bam-bans da política.

Falou de suas intenções pra esposa. Dar a bunda pra equilibrar o pênis. Depois de uma conversa franca, ela passou a ajudá-lo na composição de seu personagem. Norma era o nome de seu lado feminino.

Afinal, quando casaram, já sabia dos pendores do marido. Esses pendores jamais atrapalharam a vida sexual do casal.

Como se conheceram? Queriam pessoas do sexo oposto que aceitassem suas fantasias.


Ela queria um homem que aceitasse sua fantasia de se vestir de homem.


E ele o contrário. Sem inversão sexual, porém. Pelo menos, com ela. Assim, numa agência matrimonial se conheceram.

O tempo passou, tiveram uma filha, e deram a ela o nome de Arco-Íris.

Quando a filha completou dezoito anos, trataram de alterar o nome para Íris.


Num dia em que Íris chegara mais cedo da Faculdade, o casal partilhou com ela seus íntimos segredos.

Claro que uma situação forçou a barra e tornou essa confissão inevitável.

Foi no dia anterior, no Shopping. A família passava frente a uma vitrine, quando o pai ficou possesso por uma bota de salto alto sofisticada.

- Ai,meu Deus, que tesão que essa sandália me dá!


Os excessos do pai, expressos na forma de pulinhos delicados, foram tão extremados que a única solução seria contar a verdade.


O Agenor, colega de escritório, que passava no momento , tirou uma foto com máquina semiprofissional, justamente na hora dos pulinhos. Passou pra internet.

A filha teve um choque. Havia sido gótica, punk, emo, roqueira, porém, não estava preparada, precisava digerir essa novidade.

Em verdade, quem gozava de maior tranqüilidade, agora, era ele.

Conseguira fortalecer o álibi para suas atividades de espionagem industrial.

Fazia parte de um esquadrão especial da Polícia Federal. Era um agente de médio escalão.

A sugestão de um Agente Superintendente para que fingisse dupla identidade, antes de conhecer a esposa, fora providencial.

Teve um tempo que quase matou seu lado masculino, tal a verdade que conseguiu infundir ao personagem "crossdresser".

Uma terapia ajudou-o a reencontrar seu lado Norman dentro de Norma, para o bem de todos, particularmente, do esquadrão, que estava ficando mal falado.

O esquadrão se reuniu naquele prédio rosa, na rua rosa. Todos de vestido rosa. E decidiram que pagariam uma terapia. Pelo menos pra ele. O resto estava bem. Seus apartamentos bombavam.


O apartamento continuou lá. Sua esposa passou a utilizá-lo para os prazeres de Josino, personagem sempre presente em seu espelho.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

A MÃO EM TUDO QUE É LUGAR

A mão direita dela estava cheia de cimento branco.

Apontava daquele monturo, esperando ajuda.

Sua mão esquerda, quando a possuía, nunca tão usada como a sua mão direita. E olha que era canhota.

Enquanto não a tiravam do monturo, ele, o Homem Que Chegou segurou aquela mão, primeiro em espírito solidário, depois, com todo amor e carga de libido.

Fez com que ela batesse para ele, quando chegou a noite.

Foi tão gostoso. Fez com que ela repetisse de quinze em quinze minutos.

Quando ela foi resgatada, combinaram uma transa especializada, só com uso das mãos, para vinte e quatro horas depois.

Bem, quarenta e oito horas mais tarde, uniram as mãos, casaram-nas.

Morreram num transatlântico por meterem a mão em tudo que é lugar.

A DOR É MAIOR PRA QUEM TÁ EMBAIXO

Nem o vereador nem o eleitor/cabo eleitoral se conheciam, a não ser por uma revista que liam no banheiro (cada um no seu) todo dia e que trazia aquela modelo na capa continuadamente. Também por inúmeras cestas básicas contrabalançando o efeito negativo na economia das palavras do presidente. O eleitor/cabo eleitoral apenas mastiga vez em quando pedaços do discurso do vereador: “Estamos enfrentando meses difíceis. Houve seqüestro de dinheiro. Temos muitos precatórios herdados da administração anterior.” Tanto o vereador quanto o eleitor/cabo eleitoral gostavam daquela modelo que casou com o ex-frentista que ganhou na loteria. Quando ela casou com o ex-frentista tanto o vereador quanto o eleitor/cabo eleitoral chamaram o marido para auxiliar na Câmara. Sem se conhecerem, a não ser.

Um discurso paralelo:

Nem tanto ao mar nem tanto à terra. Mulher, sai uma, chega outra. No banheiro, sempre uso uma revista diferente. Sempre uma modelo diferente. Sabe aquela modelo que casou com o ex-frentista?”.

Falou o mendigo que no mesmo dia foi surrado tanto pelo eleitor/cabo quanto pelo vereador (nem se perceberam) na frente da Associação dos Mendigos Amorosos.

SORTE DOS CANALHAS DO CPD

Ergueu o braço direito defendendo o rosto.
Baixou o braço esquerdo defendendo a virilha.
Só não armava defesas para os golpes que vinham invisíveis e transparentes e que nem sentia, não sabendo que existiam.
Quebraram-lhe os dedos.
Desconjuntaram seus ossos.
Juntaram seus excrementos.
Se estivesse vivo, faria um escarcéu dos diabos.
Ergueu o braço direito, ajeitando os dedos.
Baixou o braço esquerdo organizando os ícones.
Se estivesse vivo, ah, se estivesse vivo!
Mas estava em modo de espera para sorte dos canalhas do CPD.

DIVERSÃO DO FILHO NO TRÂNSITO

Seu Pai Divino, há muito divorciado da Deusa-Mãe.

O Pai cansara de ser escravo.

Brigavam muito esses dois.

O que motivava, geralmente, as brigas eram as escorregadelas do Pai servindo sempre de quatro às estrelas safadas que brilhavam mesmo depois de morrer.

Depois da milionésima escorregada, a Deusa-Mãe decidiu não perdoar mais. Fugiu pros bosques.

Nos bosques, conheceu o seu Filho, o Deus Cornífero. Pai Divino seguiu a Deusa-Mãe. Com um raio, fulminou o Outro no exato momento em que este transava com Sua Mãe. Como desconhecia o poder de ressurreição do Outro, sorriu. E foi embora. Não levou a Deusa-Mãe, pensando tê-la condenado à solidão.

Quando o Deus Cornífero ressuscitou, ressurgiu bem mais viril. E com maior furor deixou a Deusa-Mãe bem fraquinha.

Por isso que falam que o Deus Cornífero é Filho e Consorte da Incriada e Criadora Deusa-Mãe.

Deixemos a Mãe e vamos pro Pai que, sem a Mãe, deu pra estragar a criação do Filho.

Dera a ele aquele planeta cheio de rodovias pra que ele se divertisse.

Dera também um monte de famílias humanas.

Era para que de vez em quando ele atropelasse algumas, dando mais cor ao rosto do asfalto.

Quando cansava, recolhia o asfalto, mesmo sujo de sangue.

Guardava-o nos bolsos, bem dobradinho, enquanto andava de quatro no Éden sendo cavalgado por uma boneca de carne com a cara da Angelina.