sexta-feira, 24 de agosto de 2012

PRAZER

Prazer. Prazer: felicidade. Antes o desejo. Permeando segundos. Permeando minutos. Permeando horas. De dia, contido. Quando fora das vielas em penumbra. Insone em nossas noites. Pensamos em controlá-lo. Iludimo-nos. Afinal, ele foge a princípios sólidos.
Ele, o prazer desejoso de mais prazer, é capoeirista nato, desde antes da escravidão. E desde então escravizava.
Quantas rasteiras dá o prazer à razão em nome da felicidade dos sentidos! 
Deixa-nos insanos na infância diante das comidas gostosas, diante da Natureza e suas árvores acolhedoras. Quantas sombras, quantos frutos, quantos prazeres embaixo de uma árvore frondosa! 
Quantos sorrisos femininos dando-nos prazer no contemplá-los simplesmente! 
Na adolescência, diante das raras revistas de modelos de quadris voluptuosos, o desejo levado ao prazer do tato. E curvas nada sutis estouravam nossas retinas com mares de prazer.
Na idade adulta, o prazer de ter um carro, uma casa, uma esposa, filhos, tranquilidade financeira.
Mas as instituições não seguram o prazer apaixonado. Quando domina a paixão, os braços institucionais são moles para conter o desejo que leva ao prazer. Flácidos. Gelatinosos. Todavia, a paixão perecível tem limites.
O prazer, em seus primórdios, se acerca da paixão. Quer domar o amor. Fazer do amor gato e sapato. Mas o tempo passa.
O amor vai ficando em casa, quando o caminho da vida está ao meio. O desejo sai, atiçando o fogo dos corpos ante outros corpos.
Intensifica a eletricidade de nossa derme, e dá à nossa circulação sanguínea consistência de lava.
O desejo almeja satisfação, chega a ser até cruel no seu desespero pelos prazeres. Não está sujeito às presas da moral. Esta subordina-se às relatividades da história, plena de condicionamentos religiosos e filosóficos.
Definições tentam acorrentá-lo, mas, ante a química dos corpos, emoções quebram cadeias e ensandecem o prazer.
Ao fim da vida, a metamorfose do prazer. O desejo moribundo está só, deixando de respirar, em síncopes. A paixão o deixou.
Então, resta quem? o amor, o prazer do companheirismo, o prazer da espera dos mistérios que estão quase à soleira.

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