sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A VINGANÇA

...Ela amava de uma maneira diversa. Fora levada a isso desde a primeira linha do conto que começava assim:
...Ele amava também de uma maneira diferente. Como ela e ele poderiam encontrar outra maneira que não fosse essa, diferente? Chamavam-nos desde a mais tenra infância de bizarros. Se confortavam naquela canção da Pitty que dizia...como é mesmo: seja você mesmo que seja bizarro. Tirar a máscara do rosto. Dar vazão à ousadia da corda.

...O criador do conto, um egocêntrico, determinou isso. Eles tinham de cumprir a diferença.
...Em cima da corda esticada entre seu prédio e o prédio dele, ela e ele fariam a travessia quantas vezes fossem necessárias. Pois se amavam, e assim era determinado desde a primeira linha pelo maníaco de escrita torta.
...Ela pensara em desistir no início. Qual ele. Mas lhes disseram que seus caminhos bizarros só permitiam a coragem. Desafiado por ela, ele deslizou na corda bamba em cima de uma canção do Nirvana.
...Enfim, através da sábia escolha do toque de batera, ele conseguiu dela um sorrisinho malicioso como um vestido curtinho....que ela não usava, mas, ele tinha imaginação muito puritana, que não permitia despi-la, porém concedia que a visse de saia curtinha.
...Todos lá embaixo olhavam para aquele amor azul como um infinito de mar, sinal de que Deus existia entre dois relevos, entre dois argumentos paralelos, entre duas rombudas dúvidas, entre dois significantes tatuados: numa banda o Alfa, noutra abundando o Ômega.

...Quando ambos estavam na corda bamba indo um em direção ao outro, tudo o mais não importava. Era tudo tão desesperado e romântico, que nem Shakespeare nem tampouco todos os escritores e escritoras eróticos abarcariam.
...Eram delirantes. Cheiravam o pó das alturas, agora. Cansados do acordar seis horas, almoçar meia hora, estressar, voltar. O Vampiro proclamara um novo país, imerso nas sombras da insegurança, reformando o modo de viver. Não se trabalhava mais com alegria.
...Ambos os amantes chutaram tudo para o alto. E tinham intenção de morrer na corda bamba entre os dois, quando notaram que não tinham liberdade. O autor não lhes permitiu a liberdade. Mesmo se finassem por razões sentimentais, não seria devido a eles mesmos. O tirano autor era também uma espécie de vampiro, pois, atingido pelo Drácula da Alvorada, com suas reformas de morte, buscou se vingar colocando seus personagens à beira da morte.
...Todavia, ele também seguia as linhas de um outro autor, e este de um outro, até o infinito, onde se pensava existir uma inversão explosiva inicial, em que uma Criatura Autora Mãe seria a criadora do Primeiro Autor Criador.
...Então, os amantes realizaram a sua vingança, entrando em combustão, através de faíscas de amor, queimando, assim, o livro que recheava sua história.

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