terça-feira, 3 de dezembro de 2013

CIDADE NORMAL DE DRÁCULAS AZEDOS

Era uma cidade normal. Suas ruas tinham o cheiro azedo dos banhos de sangue.

Jorge recolhia objetos das pessoas mortas. Conseguia um bom troco no mercado negro. Não era objetado. Por isso prosseguia.

Mariana recolhia os órgãos das pessoas mortas, era precisa com estiletes e facas e bisturis, tinha mania de limpar suas mãos nos cabelos das mesmas. Não era afeito a tocar órgão.

Solano recolhia a pele das pessoas mortas, vendia no mercado negro, com ela profissionais experientes faziam revestimentos para as coplas dos abajures. Não era muito peludo.

Rogéria pegava os ossos das pessoas mortas e vendia no mercado paralelo, especialistas faziam tacos e botões. Não era muito ossuda.

Estevão pegava porções das almas das pessoas mortas. Não dava pra pegar a totalidade. O sangue manchava geralmente as extremidades das almas. Mas mesmo porções tinham um preço alto. Estevão era o mais rico. Não era muito almudo. Desalmado talvez.

Seus habitantes traziam desde o ventre instintos selvagens usados para a desunião.

Era uma cidade normal. Seus homens amavam em veleidades de hipocrisia como sangrassem os  becos.

Nessa cidade, chegavam todos os dias os azedos lobidracuzumbis invasores do Planalto. 

Quando aportavam, pesquisavam o preço do cotidiano. Depois, se estabeleciam.

Aproveitavam-se da subserviência dos gatos e ratos.

Quando se estabeleciam, combinavam entre si os decalitros de sangue que caberiam a cada qual.

Era uma cidade normal. Seus vampiros discursavam de modo sedutor em vermelhas ondas sonoras.

Era uma cidade normal. Com os gigantes oportunistas e seus pés de feijão, varais esgotavam as vagas com dignidades penduradas criando no ar moléculas de ambição apodrecidas.

Todos tinham saudade do tempo em que os cães farejavam os pés dos muros e postes e cheiravam as genitálias uns dos outros.

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