sábado, 30 de novembro de 2013

ANJO ASSASSINO

Ele sai do muquifo. Pega um maço no bar do Puto. Lê, "en passant", o jornal no balcão.

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Mexe na bunda da bêbada com calcinha enfiada no rego. Ela lhe xinga. Ele sai correndo.
Detrás das bananeiras da comunidade, movimentos de vaivém.
Um cachorro em cima duma cadela.
Tempos passados, isso inspiraria minutos de sexo solitário.
A cadela sai, ajeitando a calça e lhe sorri.
Ela agüentaria outra chuveirada? Encher os jardins de adubo líquido. Hastear a bandeira num planeta de seios redondos. Coxas grossas, pés descalços...
Alguém me avisa que é um perobo. Foda-se. O mastro tá erguido. Ela pega um ônibus..Sorte dela. Eu ia foder e bater, pra aliviar o pecado.
Um sinal de guerra. O sangue flui rápido. A trombeta do anjo preto fere o ar com sua indignação. O dia do acerto. Derrubar o bonde deles.
Seria dia de encher os jornais com fotos. Seus colegas Biruta e Malaco se aproximam. Portam duas AK-47 e uma lança-Rockets/lança-rojão, que lhe dão com o K estropiado.
Estão intranqüilos. Parece até que andaram cheirando.
Pensa naquele filme que assistiu ontem. Não havia enredo. Só foda animal. Enchera-se de tesão. Gozou três vezes na buceta da Duda, boneca inflável.
Muitas vezes, na vontade de um prazer diferente, quis fuder Duda junto com os outros, mas, pensava, pensava e desistia.
Não era capaz de dividir. O que era seu, era e pronto. O gozo tinha de ser só seu.
Passa de frente do campinho. Lembra das vezes que jogou ali. Agora, tava tudo cheio de mato.
Um dia, chegou do campinho mais cedo que de costume.
Presenciou o pai, a estuprar-lhe a irmã mais nova. Ela só tinha nove anos. Pegara a faca e enfiara nas costas do painimal.
A mãe morrera no cachimbo havia dois meses. O crack é foda. Desde pequeno, adoecido pelos maus exemplos.
Quando iria à cidade dos pés juntos? De quantas orgias ainda participaria? Quanto ainda ganharia? Quanto ainda roubaria? Quantos alcagüetes queimaria? Detestava alcagüete. O último que matara fora um primo. Bum. Bum.
O parentesco não aliviara o ódio. Era tanto, que subestimou o perigo e quase se queimou.
Chegaram ao destino. Combinaram e cada um entrou por um lado da casa.
Barraco vazio. Correram pra fora. Um anjo esperava. Olhou pra trás. Seu corpo era uma peneira.

Olhou pro anjo que lhe apontava uma arma, por segurança, pedindo que ele, alma nebulosa, fosse na frente e seguisse a luz.

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