sábado, 30 de novembro de 2013

CUTUCAR O GRILO COM MINDINHO

Chegou o inverno. Inverno de filme antigo. Violão desafinado. Nada a fazer senão ler um cansativo escrito:

“Quando chega a estação fria, as formigas escavam uma câmara de hibernação à profundidade de 1 metro, onde a temperatura se aproxima sempre dos 10°.”

A formiga desviou os olhos para o filme pornô, o açúcar no sexo.
Do seu apê, não ouviu os passos que faziam toc toc toc.
No clímax do filme, o violino recebendo o esticar de todo o arco, batem à porta. “Caralho!”
- Sou euzinha, a cigarra. Preciso de uma caminha.
“Eu dou até a cama, mas quero brincar de cutucar o grilo com o mindinho.”
- Entra.
- Tá fechada.
- Ah, é.
Pega a chave, jogada em cima da camisinha de folha doce.
Escancara a porta.
- Entra, gostosa. A casa é sua.
- Obrigado.
- Então, entra.
- Já, já. Minha mãe ta subindo as escadas.
- Tua o quê?
- A cama é pra ela. É que eu vou numa turnê.
- Cutia ficou sem rabo de tanto fazer favor.
- Uma mão lava a outra e ambas o rosto.
- Quem com farelos se mistura, porcos o comem.
Bate a porta na cara dela.
Olha pelo buraco. Constata o tamanho da área de recreação da mãe da outra.
“Triste da mãe que põe um filho de cu na boca.”

“Aglomeram-se numa grande bola e esperam o regresso de um tempo mais clemente. A forma que utilizam para saber se ''lá em cima'' voltou o bom tempo é simples: algumas obreiras são menos sensíveis do que as outras ao frio e viajam quase sem parar entre a câmara de hibernação e a superfície do ninho.”
Antes que sua saliva escorra por baixo da porta, tara por bundas grandes, reabre a porta.

- Pode ficar. Reconsidero.
Já lá dentro, minutos depois, a formiga:
- Quando eu trampava, em que lidavas?
- Eu sou uma cigarra lésbica, passiva.
- Que coincidência! Eu só transo com cigarras lésbicas.
Cúmplice, a temperatura do ambiente aumenta.
O grelo da alma – mentira de sedução.
Espanta as teias de aranha, abraçando a cigarra, em tesão descomunal, rememorando a ultima leitura que fizera:

“Quando a temperatura se torna mais suave e aparece o sol, vêm também aquecer-se. Quando descem, a temperatura da câmara de hibernação se beneficia de algumas calorias suplementares que as mensageiras térmicas transportaram, o que faz subir um pouco o nível médio de atividade geral. Quanto mais quente se tornar o sol, mais numerosos serão os grupos que virão aproveitá-lo, alertados pelas mensageiras cada vez mais excitadas, até que por fim, a temperatura da câmara de hibernação se torna mais alta (de recordar que a maior parte das formigas abandona o estado de hibernação aos 12°), que toda a população a abandona, retomando à superfície.”F

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